Por Mareliza Cupolilo

Antes que me responda, conto-lhe a minha experiência passada.
Para dar as boas-vindas a 2020, eu me vesti de branco, escolhi uma roupa íntima nova e colorida, pulei sete ondas, tomei sopa de lentilha, comi 12 uvas e guardei as sementes na carteira. ‘Será que faltou algum ritual?’
“Por 2020, eu abri as portas da minha casa e, gentilmente, convidei: - Seja bem-vindo, meu querido!”
Passada a alegria do encontro inicial, 2020 abriu suas malas e mostrou que veio para ficar por um longo tempo, pois trazia tantos pertences que pagou uma alta fatura pelo excesso de bagagem.
Eu não quis confrontar o meu hóspede ao me deparar com toda aquela tralha. Mas, como sou mineira, fui dormir ressabiada... perguntando aos meus botões o que, afinal, 2020 pretendia aprontar.
Como boa anfitriã, fui deixando-o ficar; alimentando-o e entretendo-o. Contudo, ele logo começou a tumultuar a paz reinante em meu lar.
Ainda em janeiro, 2020 começou a marcar reuniões e assembleias bem na minha sala. Cheguei a achar que a minha casa havia se tornado um comitê político. ‘Será que 2020 pretende se candidatar a algum posto?!’, foi o primeiro pensamento que me ocorreu.
Era tanto entra e sai que eu nem conseguia me sentar, pois lá vinha a campainha tocando novamente. E, ao ouvir o ressoar da sineta, 2020 me gritava lá de dentro:
- Abre a porta e deixa o convidado entrar!
Eu só sei que conheci de perto a Alegria, a Tristeza, a Saúde, a Doença, a Ansiedade, a Preocupação, o Medo, a Melancolia, a Tirania, o Equilíbrio, a Paz, o Amor.
Quando chegou a Saudade, achei-a tão linda... parecia até que eu já a conhecia de outros carnavais. Ela me deu um forte abraço e sussurrou no meu ouvido:
- Vai passar.
E, assim, seguiram-se os dias, as semanas e os meses. Às vezes, apareciam novos convidados e as discussões aumentavam, porém, com o tempo, arrefeciam.
Foi, então, que após inúmeras conferências presididas por 2020, bem no fim do ano uma nova convidada deu as caras.
Ela era tão sublime e resplandecente que não precisou sequer tocar a campainha para se anunciar. Ao caminhar em direção à minha casa, fez cessar o trânsito, e todos os motoristas se puseram a buzinar. Os cachorrinhos que passeavam pela rua dispararam a latir. Os vizinhos, intrigados com tamanho agito, saíram às janelas e, logo, começaram a aplaudir.
Ao ouvir tamanho alvoroço, fui à porta para me certificar. Após avistar aquela figura linda, luminosa e verde, me ajoelhei e lhe disse:
- Sinta-se em casa, Esperança!
E assim que a magnífica Esperança entrou em minha morada, 2020 resolveu fechar suas malas e levantar acampamento.
Antes de ir embora, porém, 2020 me pediu para que eu, a Esperança e o Amor recebêssemos bem o seu harmonioso irmão chamado 2021. Logo após a partida de 2020, a campainha tocou novamente: Ding dong!
Eu abri a porta e, espontaneamente, falei:
- Olá, 2021! Seja bem-vindo! Mas, antes, deixa eu aferir a sua temperatura?